30.11.09

(notícia baseada em fartos reais)

SucuPira. Cachaça. Turva. Mexe. Lâminas trançadas. Cabeças abertas e fachadas. Liquidificado ser sem traço, embaralhado de atropelos pelos lados. Morreu muleque de tiro, correu ladrão de tira, caiu de pileque o Pajé. E todo dia morrem, correm, caem esses aí, eu vi no jornal de todo dia de sempre. Vinte e tantas coisas tantas vezes ditas tornam-se uma verdade infinita, fácil de acreditar: tudo isso é isso mesmo. E fica por isso. O gato come esfomeadamente a ração verde e vermelha, escuras cores. A pata está dentro do prato. Agora a outra também. Falo das dianteiras. Come de faminto, sem interrupções. Cheira o chão, se lambe, me olha e corre e se lambe na boca. Nova lambida. Já foi para os pêlos. Em baixo da cadeira pensa que foge da observação e escapa de manso, correndo para onde quis. Bunda seca sentada na cadeira, sua vida acabará em menos de algumas décadas e dentes pretos perdidos pelo fumo, pelo consumo de azeite de oliva, de uva passa, de panetone, de margarina, de amoras. Com sabor ou não, veja lá. Mande o jornalismo, mande se catar. Quer ler notícias de quê? Coisa digo aqui e olha que foi coisa já disseram, mas o lance é que o ser não é tão assim mais, sabe?... Está muitinho embaralhado. Sou máquina, sou home, sou fome? Mande à merda o justificado, o espaçamento um e meio, a fonte Times New Roman, 12, que todos estão ficando alinhados. Outro dia li ali na revista que cenoura faz bem pros olhos, ovo tome cuidado, café nunca se sabe e pão com bolor dá vitalidade. No mesmo dia reparei em tudo, até no botão do olho do cachorro coxo porque foi atropelado por um camburão. Naquele dia, que foi um outro dia, o preso que estava preso foi pego por causa de quê cortou com a faca o pé moça que um dia havia pedido a mão. O filho mais novo correu atrás do pai o mais velho acudiu a mãe e jurou matar o insano da faca, o velho lazarento. Tudo no meio da propaganda do sucrilhos e leite docinho passando na tela do centro da sala. E sangue, enxugado com o papel do jornal da família aí que foi citada. Poça de sangue bem em cima da receita de bolinho de arroz com nozes. Alô! Sim, sou eu. Putz... Tá bom, pode ser hoje sim, de qualquer jeito eu teria que ir. Mas e aí, tudo bem com você? Era só isso né? Tchau! ZUUUMMMM, ZUUUUMMMM. Quanto carro nessa coisinha de rua minha Nossa Senhora Aparecida do Vagão Queimado! E esse sol, quente pra caralho... Ui, bem que podia chover. Calorão!!! Esqueci de comprar batatinha, ô coisa viu. Nossa, amo tanto você, não paro de pensar em vocÊ. A é, e vocês falaráam tudo isso no msn? Hahahaha E depois? E depois nada, nem olhei... Fiquei com vergonha. Então... Conversamos outra hora tá, tenho que achar umas pautas aí. Só não vai chutar pedra hein, outro dia li sobre combinar sapatos com bolsa hahahhhahah té!

7.10.09

Maria, do Tião

Maria bastava para Tião que não era o bastante para Maria. Eram uma assimetria. Um chimia, outro pão. Um se ria, outro não. Se bastava Tião, se ia Maria. Só ela percebia. Como se bastante fosse o não bastar agridoce do seu amor vacilão.

22.9.09

Cultura de selos


"Girl, tem um selo pra você lá no Lexotan".

Esse foi o recado da Lu, a pensadora do entorpecente blog Lexotan... E eu descobrindo que existe a cultura de selos em blogs! Adorei Lu, valeu!

Para dar continuidade aos selos devo aqui indicar 10 blogs supimpas que muito gosto de ler e citar cinco coisas divertidas das quais eu muito goste.

Os Blogs:
Blog do Hélvio - é dele, um historiador. ponto.
Deslize Casual - da jornalista Ana Loca
Di-Vagá - do jornalista Guilherme Custódio
Impressões Digitais - do Rodrigo o poeta Scaliant
Micropólis - da jornalista e escritora Marília Kubota
Pauta que Pariu! - da jornalista Polak, mãe do lindo Marco Antônio
Pipoca e Coca Cola - da Paula Fernandes que ama ser jornalista
Retalhos - da inventiva Scheylinha
é doce - da Fran flor de bom-bom
Sui Generis - do historiador detetive Xico


As coisas:
espirrar
língua de vaca
si menor
cheiro de salsinha
coração batucando

ps: todos os blogs que forem indicados devem fazer o mesmo
(é isso né Lu?)


17.9.09

Assombro


Confiava na sua sombra: se sempre se mexesse era um sinal seguro de que ainda vinha viva. Não tirava o olho dela nem para ir à missa de terça-quarta-quinta. Assim, a cada prenúncio de noite morava o desespero que não morria. De não saber se ainda viva estava e era por isso que passava o tempo inteiro da noturna sorte num sono profundo. E era por isso aliás que rezava para o sol nascer direito. Quando da angústia de não ver o rastro efêmero do seu corpo marcado de dúvidas no chão, nas paredes, em qualquer canto que fosse, lequiava os próprios dedos num gesto corrido para espantar o calor que envadia à socos a cara envelhecida. Enquanto, enquanto, enquanto. Era tudo que cabia na vigia da sombra, perseguida com o canto policial do olho mais novo. "Deus-me-livre ela morra que eu morro também de tanto-quanto", resmungava para as bandas do céu de cinco núvens já da tarde. Bem no dia mais em sol e em si do ano estancou de tanto espanto e caiu torta na porta, enfartando.


Ps: Texto criado nas tranquilas férias de julho (22/07/09), bem do meu gosto, bem no meio do mato e bem humorado. Estava esperando a contribuição de um amigo para ser publicado. A ilustração é do super, supimpa e publicitário, Douglas Menegazzi (Doug).

15.9.09

Sismógrafo

Sinto que os ossos do vento solar sempre me equilibram quando eu dobro uma e outra esquina. Percebo apenas com o canto do olho e dou mais um passo bem ao gosto das pessoas que não impelem o esquisito, que não deixam de falar alto consigo mesmas na rua apinhada de andantes e nem gentes. Bem ao gosto dos que cantarinam nas calçadas mesmo sós. Mesmo nó-na-garganta. Dificíl está sendo entender esses dias que parece que o que devo fazer é o que sempre fiz, mas não do mesmo jeito. Difícil mesmo é se deparar com um burburinho doce na mente que balança dentro de um continente lotado de ideias dúbias, emque a probabilidade de um terremoto ignora a Escala Richter.

22.7.09

Pensamento perambulante

Um olhar perdido nunca na verdade está perdido. Ele encontra-se com um pensamento perambulante e sai dançando na cabeça das horas. É por isso que estalar os dedos no auge da bailarinação trôpega de imaginativas estórias assassina quatro-cinco devaneios que não chegam a tempo de pular para o lado de fora, quase que parecendo esquisitisse, meio que algo assim, tam-tam. Se vai assim-como, com um sorriso ladeante nos lábios, compondo a feição menos harmoniosa que o rosto consegue chegar.

15.7.09

Lembrança de hortelã...

Ontem o breve lembrar do gosto-cheiro de bala de menta me embriagou as noções. Parece que voltei na criança cheia de "porque isso?, quero aquilo!, vamos brincar de pique-esconde?, eu vi um sapo rosa-choque cum cabelo amarelo-miojo, olhando do poço pra mim!". Tudo junto com a minha mãe ao redor do fogão à lenha mexendo a polenta para poder alimentar os pensamentos daquela criança de bruços no soalho, pedindo para que a mãe meticulosamente cuspisse com o dedo letras no ar. Letras ainda não alfabéticas, tão tortas e, sem saber como, corretas no seu jeito de nascer e desembrutecer o mundo. Eram as primeiras letras da vida inteira da criança que com um breve gosto de bala de menta na boca pensa agora feita. E vai se fazendo sempre, feito frase com três pontos de nunca-fim...

15.6.09

História sem fim

Nasci num dia desses empoeirado de sol. Nasci mesmo meio sem data para acontecer, como quem nasce e vai sendo. Meu primeiro berço era todo pardo, escrito alguma coisa como "cuidado frágil". O primeiro chinelo ganhei já com três números sobrando pelos contornos do pé. Usei até meu pé ficar pelo menos dois dedos maior que o calçado. Ganhei outro quando começei a ir para a escola. Entre a aula da manhã e o pensamento na sopa de cenoura, sempre fiquei com a sopa de cenoura.

6.5.09

Coisa de segundos

Olhos túmulos e frescos diante da flor amarela. Pensamentos cítricos que a levavam desde cedo aos mares noturnos indicando sorrateiramente toda a existência contida naquelas coisas realmente vivas. Assim ela despia-se das ruazinhas enganosas do pensamento e seguia num rumo torto, tentando cheirar mais uma vez o limão desmaduro quase bem verde. Coisa de segundos, mas era "uma forma de dar um susto em seus sentidos molengos", viajava parada enquanto tilintava os dedos. Na boca super-salivada uma canção suave, melancolisada pelo momento. Sentia. E assim ia, na flor cor de ovo e na fruta verdolenga crítica, mais um acontecimento do dia.

23.4.09

Vou te contar

e a vida vasa mesmo, hoje pelos dedos da imaginação. vamos sair para absurdar o mundo e plantar um musgo poético no jardim do vizinho. as coisas caladas e sem cores ficam abatidas feito chapéu de palha abandonado. sem adjetivo que o deixe risonho, não há alma que o queira pôr na cabeça. vamos tomar um chá azul, porque o preto é muito fúnebre. ontem e depois de amanhã. e te conto o que andei pensando sobre eu e você. vamos seguir neste vasto-tudo ouvindo e fabricando música boa, com um copo vermelho maísculo. naquele compasso amiudado. e te enfeito de quixote na estrada. e te conto que o elo tem um pedaço com cheiro de amora bem no meio do caminho em que eu encontrei teu olho castanho. e a tua camisa vermelha de botão bem velha.

16.4.09

Guarda-manga e o pé de chuva

Pé de manga na hora da chuva salva da gripe, do banho e do ranho. É o guarda-manga contra o pé de chuva que caiu ind'agorinha. Vou m'embora nadar no vento cá de dentro antes que o delírio me banhe. Tchau chuva... Você caiu como uma jaca quando enfiei o pé na luva!

15.4.09

Josué

Vinha pela ladeira. Vinha alado. Amava. Tudo era diverso, todos tinham um verbo na ponta da fala, no berço da língua senhora. Sorria. A cor azul, a lembrança, a andança. Amarelo-Peixe. Verde-Cana. Josué não me engana, ama. Pluritotalmente abraça e beija: o cego, a desvalida, o comandante, a muié, o roxo piá. O que mais vier, porque ele é vasto. Se mais fossem vastos, amavam sem menos. Assim é. Que conhecer é o custo, mas às vezes tem que se pôr gosto. Que só assim Josué descansa na ladeira. E tanto. E quanto.
No vira mundo do pensá Josué tornou criadô. Uma lei foi o que ele deu. E mandô pro povo. "Dizê o quê minha fulô, o povo num vê que todos que têm aí é pra viver tumém". E bem. Um véio, uma negra. Um gordo, um sem-pé... Tudo mesmo o que tinha botou lá na mão da lei para que tudinho amassem e tanto e quanto pudessem amados fossem.
Pronto. Tudo mundo agora é gente. Pode ser. Agora na terra de Josué, tudo era alado. Que voavam. Que sonhavam. Que livres e rosas todos eram. Preto bom, moça faceira. Menino e o namorado; um sorvete com tom. Essas coisas de gente. Livre gente. Uma lei precisô. Só ficava triste Josué assim. Pensando lei é forçosa por demais. Gostoso e bom fosse o costume da gente. Gente com gente fica tudo azul. Passarinho berra afinado.
Foi-se o ano feito pudim de pêsco. Acabou logo. Lei num guentô. Que o povo inda segurou as mudanças e as diversas cores. E as nuanças. Vinha pela ladeira. Ainda amava. Josué não me engana, trama. "Lei num adiantô, costume atrasô, vou ser quem sô". Ele foi quem sabia. Que assim mostrou a ladeira pequena: cabia mais gentes. Que tinha zóio virado pra ele. Atentando e desenhando e pensamentando: "quero ser Josué quando que eu engrandecê".

14.4.09

24hrs

Debaixo do mendigo dorme a rua. Sono lento, pensa vento, come chão. Buraco na boca de lobo do estômago na conversão à espreita do meio fel. Meio frio. Pé cru no papel jornal. Meio fino de mais a mais. Dorme e silencia 24 senhoras por dia. Moeda pinga na contra-mão. Sai um café pequeno, menina torta quebra outra esquina. Sinal verde de maduro e o tempo vai ali sempre pela metade do meio-dia. Moeda re-pinga na mão dupla. Ri, só dente. Pensa "pronto", come pão. Já vai tarde. amanhã tem mais. fom-fom.

26.2.09

Beleza de retrato

Enfim pintou o auto-retrato para enviar no envelope de pano verde, comprado com carinho na grande liquidação de envelopes do ano. Da preocupação com o belo, achou que deveria super valorizar a realidade de seu rosto canhoto, cheio de manchas vermelhas lembrando o mapa de uma pitoresca ilha - ilha desconhecida por sinal; e de seu nariz feioso, pendurado no meio da cara demasiado oblonga. E se as orelhas ganhassem formas redondas e retangulasse o queixo disforme ainda ganharia uns pontinhos. E naqueles olhos de borboleta infeliz, também poderia dar um jeito, outro brilho. E assim o retrato se fez todo beleza, e desenhou-se todo bonito para conquistar o homem amado.

9.2.09

Segunda-feira

Parei de odiar segundas-feiras. Sim, a mim agora são indiferentes. Se antes as odiava por seu cárater infastiante de ter que começar a semana novamente, agora entendi o seu quê. O mais forte prenúncio de que ela viria era que o "fantástico acontecimento social", o domingo, ia embora sempre tristonhamente, com cara de pedinte. Sim, a morte de cada domingo era o nascimento de cada segunda-feira. Pois que morram e nasçam os dias sem ordem impressa que hoje é dia de vadiar.

[Segunda-feira, 09/02/09]

7.2.09

O Mito da Maçaneta

Sinto necessidade de escrever. Sobre maçanetas, moças que andam desinteressadas pelas ruas pensando em amores em vários tempos verbais, sobre um não-sei-quê que rodeia a mente há alguns idos. Se há textos que nos catucam a existência, que se faça algo para deixá-la sóbria dentro de nós antes que um elefante passe por cima e nunca se tenha a chance de saber como ela é, por dentro e por fora. Sempre podemos escrever também sobre sapatos convencionais, sobre musgos tibetanos, sobre biologia marinha; para dar significado à objetos. Inventa-se a invenção, inventa-se a existência, invetam-se os objetos e signos e aí está o mundo, todo sendo inventado. Especificamente, inventamos o lado de dentro e o lado de fora das coisas.
Falemos da maçaneta que está presa a porta. Precisa-se usá-la cada vez que aparece um portal cerrado. Para ser funcional, um lado está para fora, outro para dentro. Espiona os ares, a força da natureza, a moça que anda na rua, o automóvel com desainer moderno, um sem-fim de coisas dependendo de onde está. Espiona também um mundo quase sem sol, sem vento, aqui e ali, um olhar um pouco mais demorado nos sapatos convencionais de quem acaba de lhe apalpar para poder ter acesso ao lado de dentro. As donas maçanetas são fenomenais. Acabo de descobrir que caverna hoje em dia tem porta e a maçaneta está lá, para quem puder, quiser ou conseguir usar.