22.1.15

banhado do peito.

por aqui tirando a poeira acumulada e que virou lama no banhado do peito.

                                é gosto de lama e liberdade o que sinto e quero sentir. [é nanã]
                                tudo e nada estão por vir.

é quando a gente aceita e enxerga o grão de areia como semelhança, é quando a gente entende, finalmente, o que é curso.

                                        é largar a barra da saia do mundo e sentir as mãos tocarem sopros, se afetarem por profundezas, beijar a nossa brenha, reconhecer do que realmente somos

e achar que uma hora de tão grande e bonito, imenso e pequeno no mesmo instante,
                                                     vai saltitar do peito e virar fita colorida.
                                                   
                                                     



21.1.15

coração amarelo e água

sementinha eu, vim compreendendo que a vida é caminho torto, amargoso e doce. a gente aprende tanto se esfolando e pegando gosto pelas dúvidas. é um gesto de compaixão do universo: nos dá um coração amarelo cheinho de interrogações.

nelas é que apontam as antenas do vazio e do cheio e também do pela metade. incontável movimento.

ondas que pulam, balançam, entrelaçam. no limite do indizível.
                                         bambeando e perigando,
                                         tombando e aprendendo a firmar bulbo e raiz 
                                         beijando o vento, gozando com ele a sabedoria de águas

20.1.15

miração


meus cabelinhos de graveto me ajudam a cantar para araras: juntou o entardecer com o amanhecer numa coisa só. tudo virou encanto. elas vieram em bando voando ao meu chamado e o céu ficou prateado, lusco-fusco e iluminado. um vento leve acompanhou toda a cena, minha irmã do lado. coelhos, lobos e hienas se juntaram ao bando que se formou na costa do rio. o capim e as árvores respirando ao mesmo tempo com o todo. permaneci cantando pra existir o que senti. sonho de encantaria fica coagente.

14.1.15

folha

sou folhagens, mato seco
minhas rugas formam raízes e são nervuras das folhas
viscosas, verdolentas. substâncias que correm pelos sulcos

                                                                  me lançam forte para terra e para o mar
                                                                  para o vento e para o fogo mais braseiro



             mãe que me alimenta, quero pousar em tuas cordilheiras,
                                                            comer teus frutos na névoa da alvorada

             andar descalça por tuas cachoeiras
                                     descansar matreira, na dança de teus seres noturnos




6.1.15

'guerra dentro da gente'

a lua carregou consigo todos os olhares da noite,
os sorrisos tirou de traz de seus cabelos, as lágrimas ela descobriu em árvores

as aflições e infinitudes dela se fundiram comigo e partiram sem rumo
quase desatinadas, procurando terra boa.

comunguei um self inédito de mundo-liberdade. tive medo_espanto. ego. uma guerra se fez dentro da gente. aterrizei junto ao guerreiro e sua saia.
espada.escudo.lutei.

em toda parte do todo ainda não me caibo. ainda.
a lua foi.
eu fico aqui, me recupero dos socos da noite
procurando terra boa.