4.11.08

Férias

Galera, vou dar um sossego pro Cacto Lacto...
Daqui uns tempos ele volta, cheio de coisas pra contar. Valeu!

22.9.08

Poemanto

I
penso
tenso

enquanto
janto

imenso
lenço

tanto
pranto

II
penso
tenso
enquanto

janto
imenso
lenço

tanto
pranto
quanto

(ps: Filho do Festival de Inverno de Antonina)

11.9.08

Porca Miséria

As olheiras profundas harmonizam o crachá preocupadamente plastificado. Em destaque a denominação: chefe. A barriga invarivelmente saliente; o fumo mais caro da indústria deixa sinal nos dedos médio e indicador. O pigarro vem seguido de um "veja bem: não podemos fazer nada, o negócio de vocês ainda tem que passar por dezenove setores antes do meu, estou de mãos atadas". Novo pigarro. E o estudante de pedinte vira mendigo e sai rindo solto da miséria instituída.

1.9.08

Mundaréu


"Eu fui dá umas volta lá fora, nas voltas que o mundo dá.
Oi, cada um é cada um, no desejo e no sonhar..."
(banda Mundaréu)
Vai povoar uma cidade,
Vai brincar de ciranda,
Vai ser do mundo.

25.8.08

Por falta de título, vai qualquer coisa

Continuou ali, naquela posição fetal, olhos esprimidos, uma jarra de sucodelágrimas. O rosto impuro em contato com o chão limpo e magro. As mãos sem tato beirando o canto do quarto incolor. Somente um rastro de vida batendo de dentro do corpo e do copo. Naquele momento não queira abrir o olho para sempre; o olhar seria preso naquela coisa semfuga. Ainda contrariada, antes de abri-los, tomou mais doistrês goles, pensou na lâmpada acesa por desligar. De muito em pouco o receio mais antigo foi dissolvendo-se com a projeção que fez das peças de mobília ao seu redor, com a fantasia de poder mirar os olhos pálidos da realidade deveras dúbia, com as vistas tontas de tão abstratas e com cinco sentidos tirados da mais remota ficção... O filme não tem nome nem sombra de dúvidas de que se passou.

28.7.08

Tótem! Escafandro! Grumem!
Esdrúxulo?
Zé era dono de uma mania esquisita de se comportar. Não que ele achasse isso, mas era o que as pessoas juizavam dele. Ficava falando palavras aleatórias durante o dia (com sonoridade engraçada para ele). Pululavam de sua boca palavrões singulares; brincava com elas, flertava e acaba trocadilhando quase tudo. Não fosse aquela cara de arlequim que o provava perspicaz em alguns momentos e Zé era arrastado para o manicômio; podia parecer desmiolado mas era assim que deixava tudo plural ao seu redor. Particularmente (falo cochichando), Zé era uma partícula única de ser, simplesmete execpcional, supimpa mesmo.

2.6.08

De Pêssego à Uva Passa

Chega aos vinte e um anos e meio de idade. Aos três construiu seu próprio brinquedo, independente, não gostava de ganhar coisas prontas, achava tudo muito clichê. Aos cinco abria latas de sardinha sozinha. Aos sete, desviava as suas moedas do lanche para máquinas caça-níquel. Foi aos sete também que leu os cinco gibis mais chatos de sua vida. Aos nove, arrancou a porta do seu quarto. Com esses mesmos nove, comprou no camelô, de presente de aniversário para a amiga, um avião de plástico. Aos onze usou calça 'dins' e beijou um menino pela primeira vez. Aos treze ganhou uma flauta. Aos quinze soltava pipa da janela do quarto enquanto ouvia música e comia batata doce frita. Aos dezessete catava pedras para sua coleção e estudava para o vestibular. Aos dezenove, percebeu a pele em pêssego. De pêssego, percebeu que à uva passa. Aos vinte e um anos e meio nem pisca, para ela a vida é ímpar para achar que ainda é cedo.

7.5.08

Breve Carta à Hernesto

Você comeu pitangas? Falei para você não comer pitangas no jantar! Aquela cor vermelhudaça e macia, depois o caroço branco fantasmático... Ai Hernesto, você não! E no jantar! Pitangas no jantar... Nem é tanto pelas cores, depois elas mudam, mas pitangas Nesto... Carambolas!!!! Não digo a fruta, não, carambolas são melhores que pitangas, você sabe. Também não quero te confundir. Enfim, pitangas são sempre pitangas, choradas ou não. Chore pitangas e terá uma lágrima com gosto de pitanga salgada. Mas, sinceridade Hernesto, não as coma mais. Em último caso, se comer novamente, sabendo eu de tua insitência, use um binóculo. Entenderás meu simplório Hernesto o que te digo. Até breve e não esqueça de dar comida ao peixe.

20.4.08

Capim

Menino bonito da fita sem laço, nego-te um abraço que não seja mesmo meu. Só esse meu enlaço distraído é que vale. Um abraço que eu queira sem querer dar-te. Menino não colha uma flor e me dê. Eu não quero, prefiro o capim desbotado de sua singelice. E o menino foi sem entender entendo. E sorriu. E sorri.

25.3.08

Alumiar

Velho. Vermelho. Solto. Depois das seis da tarde tudo fica mais bonito, até o sorriso banguelo do mendigo feio que passou por mim. Melhor achar bonito que achar feio. Dói menos. Passa a hora das seis. Lá vem descambando o sol, trêbado que só, nem sabe mais porque tem que se pôr todo dia. De tão velho caducou e alumia só por alumiar, só pra poder ver a criança louca aplaudindo-o, como quem pede bis. É vaidoso ele. Mas não, não sabe mais porque tem de se mostrar todo dia. Ele apenas desaparece e aparece no horizonte, de quem ainda tem horizonte.

19.3.08

Joelhos

Fui lá ver o que aconteceu e percebi que estava com dor no meio das pernas. Parei no meio do caminho. Olhei para eles (os joelhos) e resolvi poupá-los, jogando para a bunda a responsablidade de sustentar o fardo estrondoso que sou. Débeis e engrungunhados, eles suspiram para mim. Já não podem agüentar tantos pulos, tantos ralões. Parece maluco, mas olhando para eles pude pensar na vida. Uma hora ou outra ela também se cansará de mim e vai querer que eu jogue o meu peso todo para que a morte segure as pontas.

17.3.08

Com Arroz e Feijão

Como tudo, o dia inteiro, o que vier, sério mesmo...
Com arroz e feijão como pão amanehcido, como samba, como café frio, como um pedaço de estrela, como bolo embatumado, como Leminski ... E como como! Como, como quem come a vida ... ora uma delícia, ora uma nhaca! Não que eu coma nhaca, é claro! Até gringo come arroz e feijão, mas come com chapéu (igual aquele que o Falcão deu ontem no jogo, você viu?!)... Haha! Com arroz e feijão a gente engole cada sapo... Mas o que é que não fica bom com arroz e feijão?

29.2.08

Vida Velha

Então a velha puxou do cigarro como quem puxa um lenço para assoar o nariz. Fumou sem pretensão. Ou talvez tivesse uma, fitar com os olhos sem fôlego o gato que apodrecia na sua frente. Vi que não se mexiam, nem o gato podre, nem a velha. O cenário de fundo era um muro muito bem vestido, a gravata rebocada de cor verde, aliás a única coisa que parecia ter vida dentre os três elementos do cenário. A fumaça subia zombando da cara da velha...parecia dizer que a próxima criatura a se parecer com o gato seria ela, a carcomida velha. Num instante, sem contabilizar segundos, a velha gargalhou. Ela sabia das coisas da vida.

27.2.08

Coisas que dóem na vida...

Aquela louca paixão do dedinho do pé com o canto do sofá...
Aquela pança espremida no zíper daquele bendito 'dins' surrado...
Aquela esquecidinha lazarenta do dedo na porta de qualquer coisa que tenha porta...
Aquele dedo do pé (trabalha no Imetro a desgraça) que testa se a calçada realmente é áspera no dia em que se sai de Havaianas...
Aquele cotovelo que tem pacto com o capeta, de tão sortudo acerta uma vez por semana na quina... de qualquer coisa que tenha quina...
Aquele corte exposto, naquele famoso encontro com o álcool e a gaze...
Aquela triscada no dedo indicador naquele ralador de queijo dos INFERNOS!
Enfim... aquele galo na cabeça por conta de ter batido em qualquer Objeto Voador Não Identificado naquela cervejada!!!