28.12.10

Pra

morreu de, quando menos nem viu. os dedos das congelaram, repentina boa sorte estancou o que começava a jorrar, e nada mais viu até afinar a visão e então fechou os.
antes pensou em dias que chovem em dias que o sol pinga o sal da cara.
não queria ir mas foi.
dessa pra.

17.9.10

Clara evidência

sumo danoite, dodia, dashoras enfim. todas deixadas de ser vagas entre si; vagões estremecentes acordando num tempo em que se via que já era hora de seguir. adiante, sem passo avisando retrocesso, pernas dizendo sins. com bonitos ais, de maduros sopros, de ternuras caramelo-ouro. uma clarividência, um plim!

24.8.10

outra manhã

a baratinação matinal da escova não era tão frenética quanto ontem ou em outras vésperas. nada seria eu acho. o chique-chique mal tirou o gosto sujo de sono da boca. na mesa, já despejando a bebida mexeu na toalha velha e com furos. no mesmo instante, sem licença, o cheiro do café tomava-lhe as narinas. nos dedos muito alongados o ar de desengonço que seria percebido mesmo que não se movimentasse. a asa da xícara era engolida pelos deóides enquanto pegava a faca de cabo branco mas amarelo. coçava com o antebraço a testa umidecida; o calor fugia dos seus poros em forma de letra ó. depois da manteiga, dilacerou o pão com os dentes alvinhos. sentada na sua escrivaninha-mãe a refeição pareceu tola, não queria relamente ter posto aquilo pra dentro. mas seus gestos repetidos trocentos anos a fio ganhavam a perfeição de coisas milvezes esquematizadas dentro de si. acordar, comer, pensar, escrever, dormir. acordar. cuspir.

12.8.10

Bate sandália

Um filme a fez lembrar de uma valsa de 1930. Não pela trilha mas pelas cores desbotadas da fotografia antiga da película. a mistura de tons e formas e texturas a fez lembrar de coisas sutis e sem eventual apreço; ela guardaria também o gosto do sundae de ovomaltine que tomou numa tarde de abril; consigo sem intenção o copinho de plástico já sem o doce e no pé um três por quatro empenhoso. minutos contínuos arrastados num balancê do som da sandália na pedra, chacoalhando pedacinho por pedacinho do dia.

10.8.10

Cadê as notas que estavam aqui?

Quem mais seguia e catarolava com ela no caos, Quem mais com tais maneiras vagalumosas de enxergar o mar enverdecido, a sós com o céu? Ninguém mais sentiu vontade de sair arremedando o vento manso coregosto de araçá. Ninguém se atreveu a pisar em paralelepípedos gaguejantes, na areia fofa. Nem aquele cafuso tupiniquim, nem aquela branca azularada. Quem poderia se encorajar a piscar para o lado, escolher um dos mil e centos e dizer: vem cá, quer ver?! Nem o mais destro, nem a mais canhota, repetitivo, nem a mais anorexa invenção agora seria capaz de indagar as fileiras de olhares coletivos. Há um perigo em mente. Há um perigo e ninguém mais escapa de si mesmo.

9.8.10

Andança

Ando levemente nua e embriagada por onde somente eu quero andar. Foi o que decidi até o final-do-ano. Não vou conversar com muita gente até o final do ano. Só dou olhares a velhos amigos. Permaneço um pouco sem gelo e sem fogo dentro de mim, mas com anotações de geladeira mínimas sobre o universo e dando meu melhor bom dia ao porteiro. Bem assim, 'usando outra vez o sorriso de um menino que dorme com os sapatos novos'.
Só até quando o céu-paço-moita-vento-que-balança-xilindró-muié-a-saia-peteca-cão.

21.6.10

tem dias que não

tem dias que se tornam viver entre o doce e o amargo, sentir o sol acovardar-se bem na sua frente e perder o que surge depois da colina. é quando o tempo tortura as horas.

5.5.10

ser um bicho

ando de bicicleta. prefiro as cores. gosto de cerveja com amendoim e de me distrair olhando o sábado. janelas são boas bem abertas. converso com pássaros e coelhos sem ser muito alice. há anos não molho o pão no café e acredito que devo ficar longe de extintores de incêndio e de portas de emergência. mudo de penteado às vezes e é só.

13.4.10

mais linhas

a literatura que se enfia em linhas está nas prateleiras de bibliotecas e em caixas de papelão. é lá onde está todo açúcar e as formigas. e tem becos mal enluarados, sobra de sorte, fumo e licor barato. o velho biruta de óculos ousado e atitudes óbvias. um isto e um aquilo ali. tem bicicletas poéticas e uma lanterna cor de vinho. coisas ditas no mês de março entre canecas sujas de café. pães de diversos sabores e mães das mais modernas possíveis. botões para dedarmos. incompreendidos tons de rosa e arquétipos de chapéus. barbas escuras e mal feitas. mistura de cadeiras e núvem. nariz pretinho de gato. e corremos risco ao sair de casa. ótimo e inescapável.

9.4.10

Em partes

Da primeira parte...
Talvez eu precise começar a forçar meu vômito. Coisa que nunca fiz porque nunca quis fazer. rever a comida passada em troca de bem estar não me parece interessante. Devo exigir mais esforços de mim, como quem se violenta por algo maior, como quem não tem medo de ferir a própria carne ou a própria fé. Como quem perde a convicção de maneira fácil.

Da outra parte...
Fiquei com teu gosto impregnado em mim e por dias não consigo me desfazer dele. Fiquei com discos e filmes que antes eu não conhecia e agora são tão meus. Antes só te vi passar e suspirava, depois enfiei minha língua na tua boca e agora minha cabeça pensa em te encontrar numa esquina parado sorrindo para meus olhos. Ando sem pressa para viver, me esquivo das coisas enraizadas e conservadoras. e outra, para mim só se pode sentir por inteiro. Estamos há alguns segundos de sempre acontecer coisas. me movo.