24.8.10

outra manhã

a baratinação matinal da escova não era tão frenética quanto ontem ou em outras vésperas. nada seria eu acho. o chique-chique mal tirou o gosto sujo de sono da boca. na mesa, já despejando a bebida mexeu na toalha velha e com furos. no mesmo instante, sem licença, o cheiro do café tomava-lhe as narinas. nos dedos muito alongados o ar de desengonço que seria percebido mesmo que não se movimentasse. a asa da xícara era engolida pelos deóides enquanto pegava a faca de cabo branco mas amarelo. coçava com o antebraço a testa umidecida; o calor fugia dos seus poros em forma de letra ó. depois da manteiga, dilacerou o pão com os dentes alvinhos. sentada na sua escrivaninha-mãe a refeição pareceu tola, não queria relamente ter posto aquilo pra dentro. mas seus gestos repetidos trocentos anos a fio ganhavam a perfeição de coisas milvezes esquematizadas dentro de si. acordar, comer, pensar, escrever, dormir. acordar. cuspir.

4 comentários:

Ana C. disse...

Faltou coragem pra lutar contra rotina.
Ou vontade.

Drica disse...

estilo de vida

Marilia Kubota disse...

Continua afinando os instrumentos. É isto aí, o segredo é nunca parar de tocar. beijo

Scheyla disse...

E quem é que para e pensa na baratinação matinal da escova de dente? Droga. Muito bom, Drika.