17.12.14

[ o l h o s ]

poros, pele, pelos, pentelhos. navego-te, descubro ruazinhas, pontezinhas-cicatrizes. vês que me fazes pensar o caminho inteiro do mundo? vês que meus olhos afundam na tua boca carnuda? os meus nos teus, embrenham-se nas tuas meninas
querendo despir-te para um baquete de almas.

26.11.14

olhar pássaro

teu olhar pássaro me espreita,
                    espreme, expande, derrete


     me verte,
                     líquida.
                                    fluo.



14.11.14

coruja: serzinho-madeira

a luz da minha vida atravessou indefinitudes
e te achou na beira de um rio sem margens
                             no galope de gentis nevoeiros
                                                              no hálito do anoitecer
                         
                                [coruja, líquens, camuflagem-pedra, serzinho-madeira.

                 

3.11.14

águas do mundo

o sol morenou os olhos da sabiá. sinal do tempo pra cantadora cantá. 
sinal das águas do mundo vem.
dentro do pingo da noite a laranjeira respira. 
as estrelas se lambem de alegria. 
vem de dentro.


1.10.14

meu coração encontrou o teu na curva mais doce da estrada.

meu coração encontrou o teu na curva mais doce da estrada. 
daqui movemos nossos pés e mentes, mentes e espíritos - ainda que inevitavelmente separados -  sintonizados e ligados por um fio mágico e encantado. 
                                                                                                                                                                  a vida agora nos potencializa. que seja assim. 
que dure o tempo sábio, na curva mais doce e móvel da estrada. 

                                                              [venha comigo beber água serenada.

30.9.14

hoje

o meu espanto aponta minha desconstrução.
partícula por partícula, caio-me.
transmuto, transformo. emudeço.
mover-se será sempre o próximo ato.

5.9.14

eu me árvore.

salta-me pela boca, pela árvore do meu estômago, pelas folhas-orelhas,
um tipo de alegria e prosa.
tenho xilema e floema, entendo-me planta-bicho. 
posso tocar em estrelas e atrás delas, transo-me com o todo.
ao redor e dentro,
                                                 uma.

20.8.14

in.

tenho um coração bobo.
dentro dele três palhacinhas azuis,
um raminho de flores miudinhas
e uma estradinha com nome de bolinho de chuva.




18.8.14

sobre flutuar

feito perfume de manjericão, cheiro de madeira lascada. te quero por dentro de céus e peixes. pelo topo da luz do sol te quero. por dentro de mar e pássaros. pelo que já sei, flutuo.

4.8.14

latente

na rua há mais de mês.
atarantada observando os rios atarefados de água, rindo dos reis do futuro.
 prestar atenção nos ritmos é assim bom.
aquietar pra ajeitar mesmos, diluir nuncas, examinar sempres.
percebe-se que as nuvens são a expressão latente do infinito.
efêmeros são os ecos do cachorro.



25.7.14

quase

então se eu desabasse sobre a tua pele,
dali visse sem demora que serventia de explicação não chega à galope...
entre tanto, entretanto, estamos em estado de quase

sustentasse então que o que sinto de longe é
desde o osso os rumores do meu coração sobre o teu
- do teu sobre o meu -,
imaginando encontro atrás da porta do universo

aprendesse, portanto, não vacilar na espera
ainda assim acredito que tudo faz vez pra esticar o mundo
e nós dentro.
hora que é, sempre chega.



19.7.14

mês que vem é um mês que eu sempre tive.

quando os olhos perfuraram a fumaça da noite, quando as mãos sentiram o brilho da bruma, ela pode ver que estava lá novamente. a criança em chamas. fogo, ar, luz.
e também ágüinha.
algum quando se funde vira brasa e se vira carvão dá pra virar palavra escrita de negro na soleira. janela marronzinha, falada de pretume.
eu daqui tenho chão, pó, poeira. sorriso-me. lambuza.

25.6.14

grã

esqueci da onde vem o céu de tanto botar olho no mar.
até que os dois viraram um coisinha só. e não se viu a tarde horizontar os véus.
isso pra eu lembrar que as sílabas são todas tortas
e que nós temos mania de amiudar os grãos.


28.5.14

terra solar vermelha

eu busco o mundo solareado porque ali eu caibo nele | piso no terreiro | sou eu e tambor | terrear é meu maior verbo | e pra tudo ficar mais nuance cocar é minha coroa | do mais simples, mais terno, mais essencial que se carece | quando o dia amanhece é ali que está a encantaria | abrir os olhos é uma ciência

16.5.14

alegria

esta tarde merece que um menino despenque suas nuvens,
                      que os pingos de sol e chuva contradigam o seu discurso,
 que três arco íris urgentemente se façam presentes.

                      comprovem assim sendo: a deprimência mora fora do dia, 
                                                             na alegoria 
                                                             a alegria é perenada.

14.5.14

noitinha

a noite enegrece o lado de cima do dia
e fica nesta parte o enguiço do ponteiro.
sim, pois então, deixa eu ir dizendo, a metrópole engole e nos vomita,
arrebenta o cultivo da lerdeza.

enfim, a noite é que é trapiche e cabe um mate.
ainda bem que tem guarani.

13.5.14

criança antiga

hoje a tarde eu vi uma criança antiga,
dentro de sua época,
dentro do 13 de maio,
dentro do seu vestido azul.

aquela menininha ali: um cisco.
uma poeira cósmica também.
a criança antiga já foi ciranda. já esteve yorubá, guarany.
do alto do seu carrinho antigo ela já sabe que esta sociedade vai mal.

7.5.14

o vento

apitei para o vento, sujeito solto, sem moldura. 
                                ele veio e o ar não se mexia.


4.5.14

minha jangada.

no meio de tanta água, um coração tostadinho.
o barco feito à mão desvenda o rio, sabe do cardume aceso.
o bom: que do picumã, cinza, orvalho, tempo, brotam sutilezas cardíacas.
a dureza é o agora, derramando nevoeiros.


2.5.14

maio.

o que há em nós que é, resiste. 
residir é transitório. morada se faz no tempo. 
a vida é tão relativa. tão súbita, sem sobrenome.
impermanência.

lá vem o mês de maio pisando minha horta com vento.
entre você e eu há tanto. há mais que o segredo mês passado. há séculos. 
há coisa, há magma, mandala, açúcar,  
 e tem talvez uma pena,
uma caneta, 
                  uma fotografia, 
pode ter um riso profundo. 

que esse mar transborde, se passe da minha janela
invada meus poros secos, traga cheiro e fagulhas.

 meses de maio não são para ser no plural se a cada instante o novo alcança o verde.
e eu aqui, achando a cor amendoada triste.

30.3.14

0

pra rasgar doismilequatorze já vieram gritos já vieram vazios.erupções do ão.-